quinta-feira, 25 de maio de 2017

A PEDIDOS - THE BEATLES - THE END - 2017

Abração para o amigo Ednaldo Barbosa. Valeu!
"Tudo tem um começo, um meio e um fim. Não há como escapar dessa verdade absoluta. Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos - não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se foram".
"The End" é uma música dos Beatles, lançada no álbum Abbey Road de 1969. Foi iniciada em 23 de julho de 1969 com o nome provisório de "Ending". Tem 2 min e 19 s (dois minutos e dezenove segundos) de duração e originalmente era para ser a última música do álbum, não fosse a inclusão "acidental" de Her Majesty. É iniciada com o refrão "Oh, yeah! Alright! Are you gonna be in my dreams tonight?", em seguida vem um solo de bateria de Ringo Starr que dura 16 segundos - o único de todas as músicas gravadas pelo quarteto. Em seguida, Paul McCartney, George Harrison e John Lennon, nesta ordem, revezam-se em solos de guitarra, em três blocos. Então entra um suave piano e o refrão "And in the end, the love you take is equal to the love you make", entrando em seguida uma orquestra e encerrando a canção. Apesar da grande participação de Harrison e Starr, a música é creditada à dupla Lennon/McCartney.
Como a faixa final apropriada para o último álbum gravado pelos Beatles, "The End" se tornaria a canção que encerrou a carreira de estúdio da banda. Totalmente filosófico, Paul rima ao dizer que o amor que você "take" (leva) é igual ao amor que você "make" (faz). Ele podia não estar dizendo nada mais que "é dando que se recebe", mas John ficou impressionado a ponto de declarar que se tratava de um "verso muito cósmico", provando que "quando Paul quer, ele é capaz de pensar". Paul viu sua parelha de versos como o equivalente musical do dístico com que Shakespeare encerrava algumas peças, um resumo e também um sinal de que ações do drama terminavam ali. Com certeza, a música foi um bom balanço da carreira de gravação deles - que começou com os pedidos bobos de adolescentes enamorados em "Love Me Do" e amadureceu até revelar palavras enigmáticas de sabedoria do grupo que transformou a história da música popular.

Aqui, a gente confere um trecho do livro “Here, There And Everywhere – Minha Vida Gravando os Beatles” de Geoff Emerick, sobre uma das últimas sessões de gravação do Abbey Road. Todos estavam trabalhando no processo de finalização de “The End”.
“Passamos os próximos dias fazendo overdubs e dando os toques finais em algumas canções. O foco foi rapidamente deslocado para a canção intitulada "The end", que pensávamos ser a que fecharia o álbum, por isso era muito importante. Havia uns poucos compassos vazios para serem preenchidos com o solo de bateria de Ringo — Paul tinha dito "vamos pensar em alguma coisa mais tarde", da mesma forma que havia feito com a parte do meio de "A day in the life"— e houve uma longa discussão sobre o que adicionar para completá-la. "Bem, um solo de guitarra é a coisa óbvia", disse George Harrison. "Sim, mas dessa vez você deve me deixar tocar", disse John, meio que brincando. Ele gostava de tocar guitarra solo durante os ensaios, mas sabia que não tinha o requinte de George ou Paul, então ele raramente o fazia na gravação. Todos riram, inclusive John, mas pudemos ver que ele estava falando muito sério. "Já sei!", ele disse, maliciosamente, sem vontade de encerrar o assunto. "Por que não tocamos todos o solo? Podemos revezar e trocar pequenos fraseados. Solos longos de guitarra com "duelos" de guitarristas estavam se tornando moda na época, por isso foi uma sugestão que claramente tinha mérito. George não estava confiante, mas Paul não só abraçou a ideia, como também foi ainda mais longe:"Melhor ainda", disse ele,"por que nós três não tocamos ao vivo?". Lennon adorou a ideia; pela primeira vez em semanas, vi um brilho real nos seus olhos. Não demorou muito para o entusiasmo de John passar para George, que finalmente entrou no clima. Mal Evans foi imediatamente enviado para o estúdio para configurar os amplificadores de guitarra, enquanto os três Beatles ficaram na sala de controle, ouvindo a base e pensando sobre o que eles iriam tocar. Paul anunciou que queria fazer o primeiro solo, e uma vez que a canção era sua, os outros aceitaram. Sempre competitivo, John disse que teve uma grande ideia para o fim, por isso ele viria por último. Como sempre, o pobre George Harrison foi ofuscado por seus dois companheiros de banda e ficou no meio. Yoko, como de costume, estava sentada ao lado de John na sala de controle enquanto eles estavam tendo essa discussão, mas, quando Lennon se levantou para sair para o estúdio, ele se virou para ela e disse suavemente: "Epere aqui, amor, não vai levar mais de um minuto". Ela pareceu ter ficado um pouco chocada e magoada, mas ela fez o que ele pediu, sentando-se próxima à janela da sala de controle assistindo ao restante da sessão. Foi quase como se John soubesse que ela iria estragar a atmosfera se estivesse no estúdio com eles. Algo disse a John que, para fazer aquilo funcionar, ele deveria estar apenas com Paul e George, e que seria melhor que Yoko não estivesse ao lado dele naquele momento. Talvez fosse esse o motivo, ou talvez porque em algum nível subconsciente eles decidiram suspender seus egos em prol da música, mas durante o período de aproximadamente de uma hora que eles levaram para gravar aqueles solos, toda a hostilidade, toda a disputa, tudo de ruim que havia entre os três antigos amigos foi esquecido. John, Paul e George pareciam ter voltado no tempo, como se fossem crianças de novo, tocando pelo simples prazer de tocar. Mais do que tudo, eles me lembraram de pistoleiros, com suas guitarras a tiracolo e olhares de aço, determinados a superar um ao outro. No entanto, não havia nenhuma animosidade, não havia nenhuma tensão, qualquer um poderia ver que eles estavam apenas se divertindo. Enquanto eles estavam praticando, tomei muito cuidado em criar um som diferente para cada Beatle, de modo que seria aparente ao ouvinte que eram três pessoas tocando e não apenas uma pessoa fazendo um solo estendido. Cada um deles estava tocando uma guitarra de modelo diferente e através de um tipo diferente de amplificador, por isso não foi tão difícil alcançar o que eu queria. Fiz com que Mal alinhasse os três amplificadores em uma fileira — não havia necessidade de uma grande separação, porque todos seriam gravados em um único canal. Havia pouca sobreposição entre cada solo de dois compassos, então eu sabia que poderia equalizar os níveis mais tarde, simplesmente mexendo no botão de volume. Incrivelmente, após apenas breve período de ensaio, deu tudo certo em um único take. Quando acabou, não houve tapinha nas costas ou abraços — os Beatles raramente se expressavam fisicamente —, mas vimos um monte de sorrisos largos. Foi um momento emocionante — uma das raras vezes em que eu pude dizer isso nos últimos meses —, e eu fiz questão de felicitar cada um deles quando entraram na sala de controle para ouvir o resultado. Eu estava tão impressionado pela performance de Harrison em particular, que fiz questão de dizer "Aquilo foi realmente brilhante" assim que ele entrou pela porta. George parecia um pouco surpreso, mas ele me deu um aceno com a cabeça e um gracioso "obrigado". Foi uma das poucas vezes em que me senti como se eu tivesse me ligado a ele em um nível pessoal. Acredito que tenha havido também a possibilidade de que, enquanto estavam tocando, eles tenham percebido que poderiam nunca mais tocar juntos; talvez eles estivessem vendo naquele momento uma despedida comovente. Foi a primeira vez em muito tempo que os três estavam realmente tocando juntos no estúdio; na maioria das sessões do Abbey Road haveria apenas um ou dois deles, e algumas vezes, Ringo. Além disso, eles sabiam que essa faixa encerraria o álbum; parecia já ter sido decidido que "The big one", como chamavam o medley, faria parte do lado dois do álbum, em contraste com o lado um, que conteria canções individuais, abrindo e fechando com composições de Lennon. Para mim, aquela sessão foi sem dúvida o ponto alto do verão de 1969, e ouvir aqueles solos de guitarra ainda me faz sorrir até hoje. Se os bons sentimentos engendrados por aquele dia estivessem presentes ao longo de todo o projeto, imaginem como o Abbey Road poderia ter sido ainda mais grandioso!”

2 comentários:

Ednaldo Barbosa disse...

Valeu, Edu. Abraços.

Valdir Junior disse...

Momento épico, resumiu praticamente tudo o que os Beatles disseram e gravaram nessa faixa. Daqui a 500 anos ainda vão estar analisando tudo isso.